sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Em defesa da cueca "slip" branca!

 Precisamos falar de cuecas!

A alegria no olhar de quem vai falar de um assunto favorito

... ou pelo menos eu preciso. Mas o blog é meu, caramba! Se eu acho que eu preciso falar, eu vou falar.

Cuecas são itens do vestuário que me fascinam desde pequeno. Na realidade, para ser exato, roupa íntima em geral sempre despertou o meu interesse, muito antes da excitação sexual e do tesão existirem em minha vida. E sim, para um homem hétero, a calcinha é um objeto bastante óbvio de fetiche e excitação. Para mim, porém, bem antes da minha auto aceitação como bissexual, eu tinha o fascínio pela cueca. Afinal, ela é a peça íntima que eu visto (inicialmente por imposição cultural, mas depois por escolha).

Eu confesso abertamente (pelo menos neste blog) que eu amo cuecas. Adoro usá-las, adoro vê-las em outros homens (e, por que não, em mulheres também), dentre outras coisinhas. Talvez o meu fetiche esteja um pouco além do que seria "normal" para um rapaz comum, pois, em muitos casos, um homem de cueca é mais excitante e mais atraente para mim do que um homem nu (até porque esse foco excessivo--e até exclusivo--no pênis também me entedia).

Mas há uma questão levemente urgente aqui: não é qualquer tipo de cueca que me agrada.

E talvez isso tenha ficado evidente através das fotos que eu costumo publicar...

... hmm, será?

Sim, meus caros, eu sou seletivo em relação à minha escolha de vestuário íntimo (ou, no caso do Fernie Can Do, de vestuário padrão): eu adoro cuecas slip, especialmente as brancas.

Pelo menos aqui, no Brasil, elas são conhecidas simplesmente como "slip". Lá na gringa, elas são conhecidas como "briefs"; e essas cuecas brancas, bem tradicionais, são popularmente chamadas de "tighty whities"; em tradução livre, branquinhas apertadinhas. Aqui, a gente diz que é a cueca "cavada", pelo seu corte em "V", deixando as coxas descobertas.

E sim, gente, eu uso essas cuecas por opção estética. Eu acho elas bonitas, atraentes, e, no contexto certo, extremamente sexy. E isso não é raro: no mundo gay, observa-se que esse modelo de cueca é bastante popular, e tem muita gente que fetichiza especificamente as cuequinhas "tighty whities". Eu poderia fazer aqui uma elaboração dos possíveis motivos, mas esse não é o propósito aqui; e, de forma geral, eu acho que os fetiches funcionam melhor quando eles não são compreendidos racionalmente. É melhor deixar pra fantasia, sabe? É tipo explicar por que uma música "funciona": muitas vezes a explicação está muito além de qualquer análise técnica.

O problema urgente aqui é cultural, e questão de "moda": é comum por aí a visão de que essas cuecas "não são atrativas esteticamente", que elas são "corta-clima", e que, em certos tipos de corpo, elas "parecem uma tanga" (e qual o problema nisso?). Pasmem, gente: isso é dito inclusive em sites de lojas de roupa íntima! Imagine só, uma loja dizendo que os produtos que ela mesma vende são "feios"? Eu acho bizarro. E outra, quem é que decidiu que elas "não são atrativas esteticamente"? Sim, pode haver muita gente que não gosta delas, mas e daí? Tem gente que gosta. Eu gosto. Eu não conto?

Pelo visto não...

E é aquela coisa: eu não quero ficar dando palpite no gosto alheio, dizendo o que os outros devem ou não devem gostar. Pelo contrário: eu aprecio a diversidade de gostos, e a liberdade de cada um exercer as suas preferências, livre de julgamento, e poder compartilhar seus gostos com os outros.

Mas, no Brasil, isso é cafona: o legal é mandar no outro.

Aí, tem essas lojas que dizem esse tipo de coisa sobre os próprios produtos que elas vendem. Aí, a gente entra numa loja, e 80% das opções são cuecas do tipo boxer (sim, gente, o nome correto é boxer, não "box"! Não tem nada a ver com "caixa" nem com "chuveiro", não! Originalmente, as cuecas "boxer" são as que aqui se chamam "samba-canção", folgadas nas pernas; e o tipo que tem elástico nas pernas se chama "boxer brief", ou apenas "boxer" mesmo. Mas nunca "box"!!). A mensagem que o mercado passa é que eu tô errado, que eu tô na minoria, que eu sou "insignificante" ou "esquisito" por ter um gosto que, na verdade, é compartilhado por muitos!

Então, se eu quiser comprar o tipo de cueca que eu gosto, eu tenho que comprar da gringa. Aqui, no Brasil, é bastante difícil.

É uma coisa curiosa: parece que, lá fora, o mercado cultua e celebra a diversidade. Quanto mais opções, melhor. Quanto melhor o mercado conseguir atender as especificidades dos gostos individuais, mais "eficiente" ele é. Aqui no Brasil é o oposto: tudo tem que ser padronizado, homogeneizado, planificado. Todo mundo tem que gostar da mesma coisa. A eficiência do mercado brasileiro é fazer o cara se sentir errado por não aderir à maioria. Lá fora, a "escolha individual" é sagrada; mas aqui, o triunfo do mercado é ser preguiçoso, inerte, e colocar no consumidor a obrigação de se conformar a isso (pô, qual é, Amoedo?).

O Brasil adora copiar os gringos, mas só copia o que tem de ruim. A parte boa, ninguém quer.

Sabe, é impressionante que o mercado brasileiro tem essa mania de impor gostos até mesmo de roupa íntima, justamente na época em que a diversidade sexual, a expressividade do corpo, estão cada vez mais em alta. Aí, enquanto lá fora os caras tem acesso a milhares de tipos de cuecas, em milhares de cores e milhares de materiais, a gente fica restrito só ao que as lojas e as fábricas acham que a gente tem que gostar. Aí fico eu, aqui, levantando bandeira em defesa das branquinhas apertadinhas que eu tanto adoro, e tentando convencer as pessoas que elas não precisam achá-las "feias" só porque o site de uma loja disse que elas são. Tipo, se for pra gente ter o nosso gosto pessoal, que ele seja pessoal mesmo, e não determinado pelo mercado, caramba!

Querido leitor: se você não gosta de cueca slip, tudo bem! Eu te respeito. (E, se você for legal, eu até posso usar uma boxer pra você. Chama no DM...) Mas, quando você me vê usando essas maravilhosas tighty whities, não vem querer me julgar, não. Afinal, eu não te julgo! O mínimo que eu peço é reciprocidade. Deixa eu curtir as minhas cuequinhas em paz, e não tenta determinar o meu gosto estético, tá bom?

Eu defendo as cuequinhas slip brancas sim. Aqui na minha casa, é assim que funciona, e, aqui neste blog, também. Se você não gosta, não tem problema; mas, se for pra encher o saco, vai encher o saco de outro. Eu tenho coisa melhor pra fazer.

E aí, vai implicar comigo, ou também prefere fazer coisa melhor?

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Dando o cu para o nada (ou, A ofensa que não ofende)

Se tem coisa que me ofende profundamente, é a ofensa que não ofende.

Aquele olhar julgador...

Existe um esforço associado ao ato de ofender alguém. Há um gasto de energia necessário para se achar o ponto fraco da pessoa, elaborar o insulto mais eficaz, e realmente atingir alguém. Eu penso assim: se alguém quer me ofender, então esforce-se. Até porque não é fácil: eu já ouvi tanta coisa nessa vida, e tenho um ego tão grande, e desfilo minhas fraquezas com tamanha facilidade, que pouca coisa realmente me agride.

E, de fato, se há algo que me agride, é a ofensa feita sem esforço, a ofensa óbvia, a ofensa clichê, preguiçosa, burra, sem vigor, sem ímpeto; a ofensa sem respeito à arte da ofensa. Mas, é claro, aqui, trata-se de uma agressão filosófica: não é a ofensa em si que ofende, mas a mediocridade por trás da ofensa. E não há exemplo mais icônico e perfeito da ofensa medíocre do que: "esse aí queima a rosca".

Sério, gente. O indivíduo que diz essa coisa não tem mais um pingo sequer de imaginação da mente. Os sonhos dessa pessoa são indistinguíveis da realidade, pois até o subconsciente dela perdeu inteiramente o contato com o imaginário e o surreal. É impossível achar algum equivalente a essa falta de criatividade dentre os artistas do mundo, até mesmo os mais medíocres, porque apenas para decidir fazer arte é necessário ter uma criatividade muitas ordens de grandeza maior do que é necessário para dizer que alguém "queima a rosca".

É claro que isso é bastante diferente para mim, que sou bissexual, e para o qual o ato de receber um pênis ereto em meu ânus não é nem um pouco impensável. Antes de prosseguirmos, deixemos uma coisa clara aqui: eu nunca pratiquei sexo "passivo", mas não por preconceito ou nojo, mas simplesmente porque eu até hoje não encontrei quem pudesse me deixar em uma situação confortável suficiente para experimentar. De resto, isso é, sim, uma coisa que eu faria com tranquilidade, mesmo que fosse pra no final constatar que eu não gosto. Mas, se eu gostar, eu faço, e é isso.

Mas o caso é que esse tipo de "ofensa" já me irritava antes mesmo de eu me reconhecer como bissexual: ah, se eu tenho tal opinião, é porque eu "queimo a rosca"? Sério mesmo? É só isso que vocês tem a oferecer como ataque? É patético, sabe? Se alguém realmente quisesse me ofender, diria que eu não queimo a rosca, porque eu sou incapaz de achar alguém que queira me comer.

...

[pausa para eu chorar diante do espelho, ao som de How Soon Is Now, dos Smiths]

... mas, sério, uma pessoa que tem a grandeza de pensar em um insulto desses já merece um pingo de respeito meu; mas, né, o cara "mediano", o cara "padrãozinho", não tem grandeza nenhuma. Nem a burrice dele é grande: ela é só patética.

E o que me pega, também, é a visão de mundo por trás da frase "queimar a rosca".

Pensa no seguinte: mentalize esse cara "mediano", o "padrãozinho", esse tipo de cara que você conhece muito bem. Visualize ele em sua mente. Quando esse cara ouve a palavra "homossexualidade", a primeira e única imagem mental que esse cara tem é de um homem "dando o cu".

Essa é a única referência de homossexualidade que esse cara tem.

Tipo, não dá nem pra pedir que esse cara pense em duas mulheres homossexuais, porque, na maior parte do tempo, esse cara sequer reconhece a existência de uma mulher como um indivíduo, o que dirá duas. Não, pedir que ele se lembre da homossexualidade feminina é demais. Mas veja só: esse cara não pensa em um homem dando o cu para alguém. Esse cara não visualiza dois (ou mais, né) homens fazendo sexo. Ele não imagina o sexo anal como algo que envolve mais de uma pessoa. Não: a imagem dele é de um homem "dando o cu", e é isso. Dando o cu para quem? Para o nada. Para o vazio cósmico. E, como a ciência demonstrou, até o vácuo completo possui energia; logo, nesse sentido, dar o cu para o nada até poderia ser uma ideia interessante...

Eu tentei, mas não obtive sucesso...

Mas o lance é esse: o problema que esse cara tem com a homossexualidade não é a homossexualidade em si; ou seja, na atração sexual entre duas pessoas de mesmo sexo ou gênero. O problema que esse cara tem é com o homem que ousa colocar-se em uma posição de receber algo, de estar "abaixo", de estrar "sob controle". O problema é um homem que tem a empáfia de não ser dominador, controlador.

E isso é compreensível: esse cara aprendeu a vida inteira que ele tinha que ser assim.

Imagine você, anos e anos aprendendo a se moldar de acordo com essa exigência de "masculinidade", que vem de todos os lugares: família, colégio, amigos, televisão, Internet, tudo. O cara foi bombardeado com a imposição de ser "machão", e se convenceu de que essa é a única alternativa.

E aí, vem um "Fernie" qualquer, uma bicha branquela com corpo de mascote da Michelin, e diz que todo esse aprendizado foi inútil?

Então, esse cara precisa crer que dizer que eu "queimo a rosca" é um insulto, pois isso seria um insulto para ele. Ele receberia essa frase como uma lembrança de que toda a sua vida foi uma mentira. E é por isso que essa "ofensa que não ofende" é, no final das contas, uma agressão: ela é uma autoagressão. O cara que está dizendo isso está matando a si mesmo um pouquinho.

... e eu tô aqui esperando ainda pra ver se esse negócio de queimar a rosca é tão bom quanto dizem...

"I am human and I need to be loved..." ... mas pelo menos eu não sou um xenófobo escroto.

terça-feira, 24 de agosto de 2021

As contradições da nudez

Êita, que lá vem filosofia de boteco...

Desde muito tempo, eu adoro ficar nu.

É uma coisa minha, que eu demorei certo tempo para apropriar-me como minha, e não como uma esquisitice, muito menos como uma perversão. A nudez para mim tem um certo atrativo--um não, aliás, mas vários, e eu fui descobrindo-os pouco a pouco.

Na minha família, durante meu crescimento, a nudez não era nada comum. Não que eu fosse reprimido, mas havia esse instinto natural de me ocultar, mesmo de quem eu tinha total intimidade. Além disso, demorou muitos anos até eu ter um espaço individual meu, fechado, e com porta. Mesmo quando eu tinha o meu próprio quarto, ele tinha livre acesso por todos. A ideia de privacidade chegou muito tarde na minha vida.

Tão logo eu saí de casa, eu adotei essa coisa de ficar sem roupa durante o máximo de tempo possível. Foi quase que uma lei decretada: "usarei roupas apenas quando estritamente necessário". E esse "necessário" reduzia-se a estar em público, ou na companhia de qualquer pessoa com quem não tivesse um relacionamento íntimo, ou por imposição do frio (e, nesse último caso, eu preferia o uso de um roupão, algo que ainda desse a sensação de uma certa nudez).

Aqui, um aparte, que pode parecer desnecessário, mas faz parte da construção da minha imagem: eu raramente abandono a cueca. Para mim, é um exercício tentar dizer isso sem cair na sensação do "esquisito" (afinal, todo o Fernie Can Do é praticamente isso!); mas sim, para mim, parece que a cueca traz uma sensação de intimidade ainda maior do que a nudez plena. Ficar completamente nu parece que tem um elemento de exibicionismo (que é belo e tem seu lugar, naturalmente), enquanto que ficar de cueca tem a coisa da modéstia, da casualidade, da inocência, que me atrai bastante. Fora isso, tem a questão do conforto, da higiene, e também da estética: eu sempre achei lindo um homem de cueca, o que ficou ainda mais claro depois que eu me aceitei como bissexual (nota: o tema deste parágrafo deverá voltar em uma publicação futura!).

Mas até aí, estamos falando da nudez estritamente individual--ou, no máximo, conjugal. Não há muita "contradição" nisso, né? O lance aqui é a nudez pública.

"Putz, esse chão deve estar uma sujeira..."

Eu tive especificamente duas experiências no Von Teese, de Porto Alegre, onde me permiti, pela primeira vez, expor o corpo para estranhos (e sem cueca!). A primeira foi no Sarau Pelado, que foi uma experiência artística, de compartilhar leituras (inclusive algumas minhas), e poder interagir com pessoas que estavam vivenciando aquela coisa leve e libertadora assim como eu. A segunda foi um happy hour, e aí foi em clima de festa, mesmo.

Depois, houve as minhas performances burlescas. A primeira foi num evento online (tirar a roupa na internet? Oh, que chocante!), e depois presencial. E aí, a coisa foi indo, e cá estou agora.

O lance é que, tá, tudo bem, a nudez artística é uma coisa tão velha quanto a própria arte. Por mais que ainda seja tabu pra muita gente, não é novidade nenhuma pra sociedade em geral. Mas a nudez que eu faço aqui, como Fernie Can Do, principalmente lá no Instagram (@fernie_can_do2, segue lá!), é, digamos, parcialmente artística. Tem o elemento da expressão, é claro, mas é meio que "eu mesmo" e pronto. Nem tudo é tão pensado assim.

E aí, fica uma questão: qual é a "mensagem" que eu tô passando?

Eu tenho pensado nisso desde os dias seguintes que eu comecei este trabalho. Quando eu criei a primeira conta e publiquei as primeiras fotos, eu não racionalizei muito o motivo: era uma vontade e pronto. Mas, depois, vem uma reflexão: o que exatamente eu tô fazendo?

O que me mais faz pensar é o seguinte: a nudez não necessariamente tem que ser "sexy". Inclusive, há algo intensamente interessante na nudez deliberadamente não-sexy. E eu tenho certeza de que, pra muita gente por aí, é uma necessidade também poder mostrar o corpo não como um objeto de desejo. Penso que, para as mulheres, isso é fundamental; afinal, elas já são rotineiramente objetificadas quando estão vestidas da cabeça aos pés. Imagina quando estão desnudas, então? Pra muito cara por aí, a nudez é necessariamente um "convite". Aí, mesmo uma coisa que não é pra ser "sexy" acaba se tornando objeto de desejo.

Agora, é claro que existe também a necessidade de desmistificar o tabu do sexo, poder realmente ser sexy sem ser julgado por isso. Isso também é um fator importante. Mas nudez não é só isso! E aí? Quando uma mulher se mostra como indivíduo sexual, isso tem o elemento da libertação e do enfrentamento, mas também alimentaria a ideia de que a mulher tem que ser "desejada" sempre? E quando uma mulher se mostra como "não-sexy", isso tem o efeito de confrontar a objetificação da mulher, mas também contribuiria para a estigmatização do sexo? Complicado, isso!

"Mas, Fernie, tu é homem, esse não é o teu lugar de fala!"

Eu sei, pô! Eu tô só tentando ser empático! Se tiver alguma mulher aí disposta a enriquecer a conversa, por favor, faça-o nos comentários! Eu ficarei lisonjeado e feliz com isso.

... mas, sim, eu sou homem, homem cis-gênero. E como isso me afeta?

Eu não sei se posso falar por todos os homens. Eu falo por mim. Eu sinto que, desde sempre, eu tinha um "papel a cumprir" como homem, um molde no qual eu devia me encaixar. Eu precisava ser o "dominador", o "imponente", o "controlador", o "potente".

E, de boa, eu nunca quis isso. Mesmo.

Então, embora talvez para um homem não seja tão complicado mostrar um corpo quanto para uma mulher (por muitos motivos incluindo esses que eu mencionei acima--exercício de empatia, gente!), também há alguns fatorezinhos. Afinal, o "esperado" é que eu, no máximo, mostre o corpo bombadão e sarado posando de sunga e óculos escuros na praia, ou na piscina, de preferência com uma "mulher-objeto" ali por perto. Essa é a nudez que se espera de mim (embora seja questionável inclusive se é "nudez" estar de sunga, pois isso é tão socialmente aceito!).

Mas, de novo, essa não é a nudez que eu quero. Não que eu não goste de posar de sunga (tá aí um plano futuro pro Instagram!), mas desse jeito, e com esse propósito, não.

Eu quero a nudez frágil, a nudez vulnerável, delicada, doce, bem humorada, às vezes até debochada, e fofa. E a sensação que eu tenho é que grande parte dos homens não quer isso de mim. Isso não é cumprir o "papel de homem" que me foi reservado.

Mas é o que eu quero, porra!

O que eu quero é expor justamente a nudez que eu pratico no meu íntimo, em casa, todos os dias. Não é exibir músculo e aquele sorrisão "vou te comer" como os playboyzinhos fazem na praia, mas é ficar de cueca e meia na minha cama desarrumada, sem fazer nada demais.

Tipo isso aí.

É isso que o Fernie Pode Fazer. E é isso que ele quer, e vai fazer. Não tem papel de gênero nem imposição social que vai mudar isso. Este é o meu enfrentamento, a minha pequena batalha, e eu apenas desejo que ela seja tão divertida quanto posso ser.

Mas... será que vai ser compreendido? Será que essa "mensagem" vai chegar nos outros? Eu não sei. Eu não tenho como garantir. Por mais texto que eu escreva e por mais explicação que eu dê, não tem como ter certeza. Afinal, eu sou um cara pelado na Internet. As implicações disso são imensas, e eu nunca me iludi achando o contrário.

Eu sei que, pra muitos, isso é "pervertido", é "corrompido". Eu sei que, pra outros, parece que eu tô simplesmente me exibindo e inflando meu ego. Eu sei que alguns vão achar tosco, feio; outros vão achar ridículo e sem noção; e talvez alguns outros ainda me tratem como material de punheta. Isso eu não controlo.

O que eu sei é que eu não quero mandar "mensagem" nenhuma sobre qualquer pessoa que não seja eu mesmo. Eu não quero dizer que os outros devem se exibir que nem eu, que o corpo masculino deve ou não deve ser objeto de desejo, ou qualquer coisa que valha. A mensagem que eu passo é sobre mim mesmo, e, no fim, você vai interpretá-la do jeito que você quiser.

Então interpreta a minha bunda.

... aliás, se eu sou material de punheta pra você, eu não vou te criticar nem te constranger, tá bem? Seja feliz e divirta-se. Apenas não invada meu espaço individual sem eu dar autorização. Aliás, não faça isso nem comigo nem com ninguém, certo? Agora, se você for respeitoso e gentil, eu tô disposto a trocar uma ideia.

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

O fascínio de ser visto

 

O marshmallow de cueca

Eu confesso, isso é meio viciante.

Existe algo atraente na ideia de ser visto, de ser observado, de estar no centro das coisas, sem receios nem vergonhas. A questão é que isso só se tornou claro e inegável para mim recentemente, mas, em meu íntimo, eu sinto isso desde muito cedo.

Mas, claro, depende muito do tipo de atenção que a gente recebe, em que contexto, em que situação, e, talvez o mais importante: se a gente está no controle ou não.

Eu toco teclado desde criança. Não sei precisar com que idade eu comecei a ter minhas primeiras aulas, mas eu estava no ensino fundamental. Eu tocava aquelas canções bem simples, em estilo "teclado de churrascaria": acorde na mão esquerda, melodia na mão direita. E eu gostava. Adorava, na realidade. Lembro que, em 1998, compus as minhas primeiras músicas nesse teclado, nessa mesma sistemática, e foi o máximo para mim.

Só que era muito constrangedor quando os adultos da família pediam para me ouvir tocar. Eu tinha medo de errar, de "fazer feio". Eu me sentia julgado e analisado nos mínimos detalhes, e eu travava. Volta e meia eu era levado na casa de parentes para tocar, ou eles vinham aqui e pediam um "pocket show", e eu fazia, mas sempre muito tenso e desconfortável.

Agora, pode até parecer uma contradição isso que eu vou dizer, mas hoje eu percebo que não é: eu adorava tocar em público.

Quando era para uma plateia anônima e desconhecida, eu me sentia bem. Era prazeroso tocar, porque eu não me sentia tão julgado. Era o meu show. Eu estava no controle. Quando eu tocava para a família, eles estavam no controle.

Quando eu era o "centro das atenções" no colégio por eu ser esquisito, "aluno exemplar" e péssimo no futebol, era doloroso. Eu só queria ser invisível, porque eles estavam no controle. Porém, subir no palco e ser visto como artista sempre foi viciante, embora minhas experiências eram limitadas.

Eu comecei a namorar o palco em uma oficina de teatro a partir de 2011, e foi intenso e fantástico. Três anos de experiências lindas, e eu só queria mais e mais daquilo. Lembro-me bem da minha primeira apresentação; embora fosse apenas para os alunos da turma, foi a primeira vez que tive que decorar texto, ensaiar, elaborar figurino e tudo. O texto que recebi foi uma cena da pesa Lisístrata, de Aristófanes, e eu fui a personagem titular. Eu sentia que, se eu tivesse a chance, encenaria a peça inteira nesse papel.

A experiência com o teatro acabou, mas, em seguida, veio a música. Toquei com a minha banda, toquei com amigos, toquei sozinho, e comecei a fazer minhas lives de sábado. Eu adoro. Estar no palco e ser visto e ouvido é realmente incendiário e apaixonante.

E, aí, veio o burlesco do Von Teese.

Cena deletada de O Tempo e o Vento, TV Globo, 1985

Se subir no palco já é viciante--seja como ator, músico ou o que for--expor o corpo assim chega a ser quase uma adicção patológica (quase!!). E é libertador poder admitir isso, ainda que da forma leve e jocosa que eu faço aqui. Por que é tão viciante? Sei lá! Mas é um misto de muitas sensações e anseios que já explodem dentro de mim há anos, e agora elas não precisam mais de bloqueios.

É pelo humor? Sim, claro que é. É pela meiguice? Também, com certeza. É pela sexualidade?... Ora, por que não? Voltando à questão do controle: embora eu esteja no controle de como eu me exponho, eu não controlo o que o público vê, o que pensa e o que sente. É o mesmo com a música: eu componho e canto canções que falam quase sempre de vivências pessoais íntimas, mas cada um projeta um pouco de si na minha música, e, sei lá, uma canção escrita para uma pessoa com quem eu me relacionei por algumas semanas em setembro de 2018 pode virar uma música que alguém dedica ao seu cônjuge de décadas, e isso só torna a coisa toda ainda mais mágica. E este meu "trabalho" "erótico" (como é estranho usar essas duas palavras assim) é a mesma coisa: o que é "fofo" para mim pode ser "ridículo" para o outro; o que é "engraçado" para mim pode ser "inspirador" para o outro; o que é "bobinho" para mim pode ser... "sexy" para o outro? Talvez? Por que não?

Seja lá como for, sejam lá quais forem as impressões do outro, eu confesso que tenho essa sensação febril, essa vontade de ser visto. Eu queria gritar, "me olhem, por favor!" Pode me taxar de narcísico e egocêntrico, mas, ei, eu não tô machucando ninguém, tô? Não tô fazendo mal a ninguém, então vá lá, azar. Pode ser uma ilusão isso de achar que estou fazendo uma grande diferença com estas fotos e esses textos, mas como diz a música daquele grande gênio porto-alegrense: "Se for pra ser assim, prefiro uma ilusão que não faça mal a ninguém".

Mas, por favor, continue me olhando.



terça-feira, 17 de agosto de 2021

Será que AQUI o Fernie pode?

Mas que papo é esse, afinal? Que história é essa de Fernie Can Do? Fernie pode? Pode o quê?

Bom, aparentemente, o Fernie Não Pode em determinados lugares. Calma que tudo vai ser explicado.

Tudo começou em um lugarzinho chamado Von Teese, na cidade de Porto Alegre. O bar já existia vários anos antes de eu ir lá pela primeira vez, mas eu sempre acabava deixando de ir, por achar que não tinha a ver comigo. Ou melhor: eu tinha ido lá exatamente uma vez, antes do local operar normalmente, para assistir à apresentação de uma banda de conhecidos meus, a Pikardia. Naquela ocasião, eu não tinha entendido exatamente qual era a proposta do local.

Aí, no finalzinho de 2019 (ou iniciozinho de 2020? Nem lembro!), eu comecei a ir, e foi amor à primeira vista. Eu percebi que eu queria aquilo.

Eu fiz duas apresentações lá: uma delas foi num Open Burlesco online, e outro presencial, no finalzinho de 2020, quando havia a impressão de que as coisas estavam ficando mais tranquilas. Ledo engano...

Mas eu queria mais. Eu queria mais liberdade, mais leveza, mais autonomia. Eu queria algo meu. Algo que fosse inspirado pelas minhas experiências burlescas no Von Teese, mas que tivesse a minha cara, o meu jeito.

Criei, então, a conta @fernie_can_do, no Instagram.


Foi uma libertação para mim. Eu podia ser divertido, fofo, debochado, sem vergonha, sem as amarras das roupas e das vergonhas.

Mas aí, sem receber um motivo exato, a conta foi suspensa.

Se é permanente? Não sei. Diz o site que eu vou poder "solicitar uma análise", seja lá o que isso quer dizer. Mas o pior é não saber a razão: será pelo conteúdo? Tem coisa bem mais sacana que as minhas por lá! Será porque a conta não estava verificada o suficiente? Pode ser (a gente não tem o costume de ler os Termos de Uso, e dá nisso). Ou será que é porque eu adicionei um link para um outro site (sim, aquele lá, que é apenas para fãs... ou only fans. Procura lá!), e isso pode ter pego mal. É tenso ficar na dúvida.

Pelo menos a minha conta oficial (@canto_fernie) não foi afetada. Quem me acompanha no meu trabalho como músico ou escritor, ou simplesmente por ser meu conhecido, ainda pode me encontrar por lá.

No momento, Fernie Can Do está vagando por aí, tentando disseminar um pouquinho da sua pouca vergonha e seu atrevimento pelos cantinhos da Internet. E eu só não vou sair divulgando esses canais por aí abertamente porque eu não creio que todos os meus conhecidos querem me ver aparecendo em suas timelines dizendo "e aí, quer me ver pelado?", mesmo que o meu conteúdo seja levinho (exceto talvez lá naquele outro site... como é que é o nome mesmo? Apenas Ventiladores?).

Se a conta no Instagram voltar, ficarei muito feliz. Se não, será que eu crio outra? Fernie Can Do 2: Electric Boogaloo? Será que convém cutucar a onça com vara curta?

Enquanto isso, vou ficar por aí, buscando uma casa onde as pessoas me encontrem. Afinal, a Internet é grande... mas será que ela aguenta a minha fofura?


Veremos!

Em defesa da cueca "slip" branca!

  Precisamos falar de cuecas! A alegria no olhar de quem vai falar de um assunto favorito ... ou pelo menos eu preciso. Mas o blog é meu , ...