sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Em defesa da cueca "slip" branca!

 Precisamos falar de cuecas!

A alegria no olhar de quem vai falar de um assunto favorito

... ou pelo menos eu preciso. Mas o blog é meu, caramba! Se eu acho que eu preciso falar, eu vou falar.

Cuecas são itens do vestuário que me fascinam desde pequeno. Na realidade, para ser exato, roupa íntima em geral sempre despertou o meu interesse, muito antes da excitação sexual e do tesão existirem em minha vida. E sim, para um homem hétero, a calcinha é um objeto bastante óbvio de fetiche e excitação. Para mim, porém, bem antes da minha auto aceitação como bissexual, eu tinha o fascínio pela cueca. Afinal, ela é a peça íntima que eu visto (inicialmente por imposição cultural, mas depois por escolha).

Eu confesso abertamente (pelo menos neste blog) que eu amo cuecas. Adoro usá-las, adoro vê-las em outros homens (e, por que não, em mulheres também), dentre outras coisinhas. Talvez o meu fetiche esteja um pouco além do que seria "normal" para um rapaz comum, pois, em muitos casos, um homem de cueca é mais excitante e mais atraente para mim do que um homem nu (até porque esse foco excessivo--e até exclusivo--no pênis também me entedia).

Mas há uma questão levemente urgente aqui: não é qualquer tipo de cueca que me agrada.

E talvez isso tenha ficado evidente através das fotos que eu costumo publicar...

... hmm, será?

Sim, meus caros, eu sou seletivo em relação à minha escolha de vestuário íntimo (ou, no caso do Fernie Can Do, de vestuário padrão): eu adoro cuecas slip, especialmente as brancas.

Pelo menos aqui, no Brasil, elas são conhecidas simplesmente como "slip". Lá na gringa, elas são conhecidas como "briefs"; e essas cuecas brancas, bem tradicionais, são popularmente chamadas de "tighty whities"; em tradução livre, branquinhas apertadinhas. Aqui, a gente diz que é a cueca "cavada", pelo seu corte em "V", deixando as coxas descobertas.

E sim, gente, eu uso essas cuecas por opção estética. Eu acho elas bonitas, atraentes, e, no contexto certo, extremamente sexy. E isso não é raro: no mundo gay, observa-se que esse modelo de cueca é bastante popular, e tem muita gente que fetichiza especificamente as cuequinhas "tighty whities". Eu poderia fazer aqui uma elaboração dos possíveis motivos, mas esse não é o propósito aqui; e, de forma geral, eu acho que os fetiches funcionam melhor quando eles não são compreendidos racionalmente. É melhor deixar pra fantasia, sabe? É tipo explicar por que uma música "funciona": muitas vezes a explicação está muito além de qualquer análise técnica.

O problema urgente aqui é cultural, e questão de "moda": é comum por aí a visão de que essas cuecas "não são atrativas esteticamente", que elas são "corta-clima", e que, em certos tipos de corpo, elas "parecem uma tanga" (e qual o problema nisso?). Pasmem, gente: isso é dito inclusive em sites de lojas de roupa íntima! Imagine só, uma loja dizendo que os produtos que ela mesma vende são "feios"? Eu acho bizarro. E outra, quem é que decidiu que elas "não são atrativas esteticamente"? Sim, pode haver muita gente que não gosta delas, mas e daí? Tem gente que gosta. Eu gosto. Eu não conto?

Pelo visto não...

E é aquela coisa: eu não quero ficar dando palpite no gosto alheio, dizendo o que os outros devem ou não devem gostar. Pelo contrário: eu aprecio a diversidade de gostos, e a liberdade de cada um exercer as suas preferências, livre de julgamento, e poder compartilhar seus gostos com os outros.

Mas, no Brasil, isso é cafona: o legal é mandar no outro.

Aí, tem essas lojas que dizem esse tipo de coisa sobre os próprios produtos que elas vendem. Aí, a gente entra numa loja, e 80% das opções são cuecas do tipo boxer (sim, gente, o nome correto é boxer, não "box"! Não tem nada a ver com "caixa" nem com "chuveiro", não! Originalmente, as cuecas "boxer" são as que aqui se chamam "samba-canção", folgadas nas pernas; e o tipo que tem elástico nas pernas se chama "boxer brief", ou apenas "boxer" mesmo. Mas nunca "box"!!). A mensagem que o mercado passa é que eu tô errado, que eu tô na minoria, que eu sou "insignificante" ou "esquisito" por ter um gosto que, na verdade, é compartilhado por muitos!

Então, se eu quiser comprar o tipo de cueca que eu gosto, eu tenho que comprar da gringa. Aqui, no Brasil, é bastante difícil.

É uma coisa curiosa: parece que, lá fora, o mercado cultua e celebra a diversidade. Quanto mais opções, melhor. Quanto melhor o mercado conseguir atender as especificidades dos gostos individuais, mais "eficiente" ele é. Aqui no Brasil é o oposto: tudo tem que ser padronizado, homogeneizado, planificado. Todo mundo tem que gostar da mesma coisa. A eficiência do mercado brasileiro é fazer o cara se sentir errado por não aderir à maioria. Lá fora, a "escolha individual" é sagrada; mas aqui, o triunfo do mercado é ser preguiçoso, inerte, e colocar no consumidor a obrigação de se conformar a isso (pô, qual é, Amoedo?).

O Brasil adora copiar os gringos, mas só copia o que tem de ruim. A parte boa, ninguém quer.

Sabe, é impressionante que o mercado brasileiro tem essa mania de impor gostos até mesmo de roupa íntima, justamente na época em que a diversidade sexual, a expressividade do corpo, estão cada vez mais em alta. Aí, enquanto lá fora os caras tem acesso a milhares de tipos de cuecas, em milhares de cores e milhares de materiais, a gente fica restrito só ao que as lojas e as fábricas acham que a gente tem que gostar. Aí fico eu, aqui, levantando bandeira em defesa das branquinhas apertadinhas que eu tanto adoro, e tentando convencer as pessoas que elas não precisam achá-las "feias" só porque o site de uma loja disse que elas são. Tipo, se for pra gente ter o nosso gosto pessoal, que ele seja pessoal mesmo, e não determinado pelo mercado, caramba!

Querido leitor: se você não gosta de cueca slip, tudo bem! Eu te respeito. (E, se você for legal, eu até posso usar uma boxer pra você. Chama no DM...) Mas, quando você me vê usando essas maravilhosas tighty whities, não vem querer me julgar, não. Afinal, eu não te julgo! O mínimo que eu peço é reciprocidade. Deixa eu curtir as minhas cuequinhas em paz, e não tenta determinar o meu gosto estético, tá bom?

Eu defendo as cuequinhas slip brancas sim. Aqui na minha casa, é assim que funciona, e, aqui neste blog, também. Se você não gosta, não tem problema; mas, se for pra encher o saco, vai encher o saco de outro. Eu tenho coisa melhor pra fazer.

E aí, vai implicar comigo, ou também prefere fazer coisa melhor?

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Dando o cu para o nada (ou, A ofensa que não ofende)

Se tem coisa que me ofende profundamente, é a ofensa que não ofende.

Aquele olhar julgador...

Existe um esforço associado ao ato de ofender alguém. Há um gasto de energia necessário para se achar o ponto fraco da pessoa, elaborar o insulto mais eficaz, e realmente atingir alguém. Eu penso assim: se alguém quer me ofender, então esforce-se. Até porque não é fácil: eu já ouvi tanta coisa nessa vida, e tenho um ego tão grande, e desfilo minhas fraquezas com tamanha facilidade, que pouca coisa realmente me agride.

E, de fato, se há algo que me agride, é a ofensa feita sem esforço, a ofensa óbvia, a ofensa clichê, preguiçosa, burra, sem vigor, sem ímpeto; a ofensa sem respeito à arte da ofensa. Mas, é claro, aqui, trata-se de uma agressão filosófica: não é a ofensa em si que ofende, mas a mediocridade por trás da ofensa. E não há exemplo mais icônico e perfeito da ofensa medíocre do que: "esse aí queima a rosca".

Sério, gente. O indivíduo que diz essa coisa não tem mais um pingo sequer de imaginação da mente. Os sonhos dessa pessoa são indistinguíveis da realidade, pois até o subconsciente dela perdeu inteiramente o contato com o imaginário e o surreal. É impossível achar algum equivalente a essa falta de criatividade dentre os artistas do mundo, até mesmo os mais medíocres, porque apenas para decidir fazer arte é necessário ter uma criatividade muitas ordens de grandeza maior do que é necessário para dizer que alguém "queima a rosca".

É claro que isso é bastante diferente para mim, que sou bissexual, e para o qual o ato de receber um pênis ereto em meu ânus não é nem um pouco impensável. Antes de prosseguirmos, deixemos uma coisa clara aqui: eu nunca pratiquei sexo "passivo", mas não por preconceito ou nojo, mas simplesmente porque eu até hoje não encontrei quem pudesse me deixar em uma situação confortável suficiente para experimentar. De resto, isso é, sim, uma coisa que eu faria com tranquilidade, mesmo que fosse pra no final constatar que eu não gosto. Mas, se eu gostar, eu faço, e é isso.

Mas o caso é que esse tipo de "ofensa" já me irritava antes mesmo de eu me reconhecer como bissexual: ah, se eu tenho tal opinião, é porque eu "queimo a rosca"? Sério mesmo? É só isso que vocês tem a oferecer como ataque? É patético, sabe? Se alguém realmente quisesse me ofender, diria que eu não queimo a rosca, porque eu sou incapaz de achar alguém que queira me comer.

...

[pausa para eu chorar diante do espelho, ao som de How Soon Is Now, dos Smiths]

... mas, sério, uma pessoa que tem a grandeza de pensar em um insulto desses já merece um pingo de respeito meu; mas, né, o cara "mediano", o cara "padrãozinho", não tem grandeza nenhuma. Nem a burrice dele é grande: ela é só patética.

E o que me pega, também, é a visão de mundo por trás da frase "queimar a rosca".

Pensa no seguinte: mentalize esse cara "mediano", o "padrãozinho", esse tipo de cara que você conhece muito bem. Visualize ele em sua mente. Quando esse cara ouve a palavra "homossexualidade", a primeira e única imagem mental que esse cara tem é de um homem "dando o cu".

Essa é a única referência de homossexualidade que esse cara tem.

Tipo, não dá nem pra pedir que esse cara pense em duas mulheres homossexuais, porque, na maior parte do tempo, esse cara sequer reconhece a existência de uma mulher como um indivíduo, o que dirá duas. Não, pedir que ele se lembre da homossexualidade feminina é demais. Mas veja só: esse cara não pensa em um homem dando o cu para alguém. Esse cara não visualiza dois (ou mais, né) homens fazendo sexo. Ele não imagina o sexo anal como algo que envolve mais de uma pessoa. Não: a imagem dele é de um homem "dando o cu", e é isso. Dando o cu para quem? Para o nada. Para o vazio cósmico. E, como a ciência demonstrou, até o vácuo completo possui energia; logo, nesse sentido, dar o cu para o nada até poderia ser uma ideia interessante...

Eu tentei, mas não obtive sucesso...

Mas o lance é esse: o problema que esse cara tem com a homossexualidade não é a homossexualidade em si; ou seja, na atração sexual entre duas pessoas de mesmo sexo ou gênero. O problema que esse cara tem é com o homem que ousa colocar-se em uma posição de receber algo, de estar "abaixo", de estrar "sob controle". O problema é um homem que tem a empáfia de não ser dominador, controlador.

E isso é compreensível: esse cara aprendeu a vida inteira que ele tinha que ser assim.

Imagine você, anos e anos aprendendo a se moldar de acordo com essa exigência de "masculinidade", que vem de todos os lugares: família, colégio, amigos, televisão, Internet, tudo. O cara foi bombardeado com a imposição de ser "machão", e se convenceu de que essa é a única alternativa.

E aí, vem um "Fernie" qualquer, uma bicha branquela com corpo de mascote da Michelin, e diz que todo esse aprendizado foi inútil?

Então, esse cara precisa crer que dizer que eu "queimo a rosca" é um insulto, pois isso seria um insulto para ele. Ele receberia essa frase como uma lembrança de que toda a sua vida foi uma mentira. E é por isso que essa "ofensa que não ofende" é, no final das contas, uma agressão: ela é uma autoagressão. O cara que está dizendo isso está matando a si mesmo um pouquinho.

... e eu tô aqui esperando ainda pra ver se esse negócio de queimar a rosca é tão bom quanto dizem...

"I am human and I need to be loved..." ... mas pelo menos eu não sou um xenófobo escroto.

Em defesa da cueca "slip" branca!

  Precisamos falar de cuecas! A alegria no olhar de quem vai falar de um assunto favorito ... ou pelo menos eu preciso. Mas o blog é meu , ...